Formiga-de-fogo na Europa: Possível colonização do continente é uma ameaça real

Desde 2019 que há queixas na região de Siracusa, na ilha italiana da Sicília, de picadas especialmente dolorosas de formigas. Esta semana, uma investigação científica confirmou que as formigas-de-fogo (Solenopsis invicta) estabeleceram-se, de facto, naquela ilha. Mattia Menchetti, do Instituto de Biologia Evolutiva, em Barcelona, Espanha, e colegas identificaram no Inverno passado 88 colónias da espécie invasora naquela região urbana. O estudo foi publicado esta semana.

A equipa também avaliou que áreas e cidades da Europa seriam bons para a colonização da formiga. “De acordo com os nossos modelos ecológicos, a Península Ibérica e Portugal são territórios adequados para esta espécie”, diz Mattia Menchetti. O investigador, que estuda a diversidade genética das formigas europeias e está interessado em investigar a diversidade e evolução tanto das formigas autóctones como das invasoras, respondeu a algumas questões ao PÚBLICO, por e-mail, sobre este tema quente.

A Solenopsis invicta pode causar danos significativos nos ecossistemas naturais e nas áreas humanizadas. A espécie é uma predadora generalista, e a diversidade biológica diminui nas áreas colonizadas. Afecta animais, de invertebrados até animais pequenos e debilitados. O principal tipo de dano para os humanos tem que ver com o equipamento de comunicações e eléctrico, na agricultura, podendo ainda afectar a saúde humana. A sua picada é dolorosa e nas pessoas sensíveis pode causar pústulas e reacções alérgicas, é possível até causar um choque anafiláctico.

Os climas frios não são apropriados para a espécie. Mas em certas regiões poderá colonizar áreas não urbanas tanto como as cidades. As áreas urbanas podem providenciar micro-habitats mais quentes ou pode sobreviver em lugares quentes como estufas.

Sim, de acordo com os nossos modelos ecológicos, a Península Ibérica e Portugal são territórios adequados para esta espécie.

As cidades costeiras mediterrânicas são as mais adequadas para esta espécie, e estes lugares estão muito bem conectados graças aos portos marinhos. O comércio pode por isso facilitar a propagação da Solenopsis invicta.

As autoridades estão cientes da presença da espécie e espera-se que a erradicação se inicie rapidamente. É também importante compreender a extensão das áreas invadidas, se houver mais locais invadidos.

A população local informou-nos que as picadas começaram em 2019. Isto significa que a espécie já está presente na área há anos, e é difícil dizer o número de outros locais que foram colonizados ao longo destes anos. A ajuda dos cidadãos e a comunicação entre eles e nós poderão ser cruciais para chegar a terrenos privados e descobrir novos formigueiros. O sucesso também vai depender do tamanho e da extensão real da área invadida.

Como as cidades costeiras mediterrânicas estão muito bem conectadas, o risco de uma possível colonização do continente existe.

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